Homenagem ao Soldado “ARARI”

Franklin Pacheco Silva, incorporou na Polícia Militar do Maranhão no ano de 1981. Atualmente está no posto de coronel QOPM, exercendo suas atividades policiais no Quartel do Comando Geral.

O coronel Franklin, nas horas vagas compõe toadas de bumba-meu-boi no sotaque de matraca, tendo em três anos composto 19 (dezenove) músicas para as “batalhões” do Bairro de Fátima e São José de Ribamar.

A toada “O Guerreiro dos Cocais”, foi composta em homenagem ao Soldado “ARARI”, tendo surgido a partir de uma conversa entre o homenageado e o coronel Franklin (fato verídico), com o testemunho do soldado PM Almir, da Academia de Polícia Militar do Maranhão.

Narração do Coronel Franklin, sobre a “prosa” que teve com o Sd Arari:

 

   “Num desses dias de corre-corresdArari

    Agitação e horários a cumprir

    Aproximou-se da nossa viatura

    Um policial a sorrir

 

    Acenou com um sorriso largo

    Sua cor escura, alto, forte e jeitão bondoso

    Atendi ao aceno

    E parei para escutar aquele moço

   

 

    Soldado “Arari”

 

    Meio receoso, humilde, mas objetivo

    Falou com certa vergonha

    Que precisava de uma carona comigo

 

    Notei de imediato o seu torto colarinho

    E então pensei comigo

    Relaxado, apressado

    Ou só apenas esquecido?

 

    Deixei de lado a aparência

    Voltando a atenção para o seu pedido

    E disse-lhe então

    Entre no carro

    Pois vamos à mesma direção

 

    Tamanho foi meu espanto

    Quando de um pulo só

    Aquele soldado em ato relâmpago

    Saltou pra dentro da carroceria

    E sentou-se num canto

    Sequer sabia o seu nome

    Mas naquele momento tive a certeza então

    Que alí estava um bom soldado

    Um homem de um bom coração

 

    Sua simplicidade

    E atitude ruralista

    Logo umideceram-me a vista

 

    Foi aí

    Que do branco momentâneo

    Disse ao mesmo

    Desça da carroceria e sente-se aquí

 

    Ele meio sem jeito e um tanto relutante

    Disse que não precisava

    Que acostumado estava

    E que a boléia era pra comandante

 

    Diante daquela saudosa demonstração de disciplina

    Não tive dúvidas

    Que uma vez dada a ordem

    Aquele bom soldado a cumpriria

 

    Ordenei-lhe meio que sorrindo

    Sem dar-lhe outra opção

    Ele então entrou, sentou-se

    E começamos uma conversação

    Eu, o motorista almir e aquele soldadão

 

    Ele então iniciou a prosa

    E no seu acaboclado expressar

    Demonstrou imensa alegria

    A sua história começou a contar

 

    ‘meu nome é Manoel de Jesus da Costa Filho

    Mas desde que me entendí

    O povo só me conhece como Ararí

    Tenho cinquenta e quatro anos bem vividos

    E tudo devo ao nosso senhor

    Desde da quebração de côco

    Ao tempo de estivador

    Deus sempre me ajudou

    E hoje feliz policial eu sou

    Não tenho grande saber

    Mas sempre fui de trabalhar

    Sempre feliz desde muito pequeno

    Em Lagoaçú no povoado Cazumbá

    Tenho minha bela família

    Que me deixa eternamente contente

    Faço tudo pelos meus sete filhos

    De sete letras diferentes’

 

    Interrompendo sua narrativa

    Perguntei-lhe sobre sua vida na polícia

 

    Disse-me então

    Que muitos bandidos levou para prisão

    Algumas vezes, até sozinho na ação

 

    Que após algum tempo trabalhando no mato

    Embrenhado no sertão

    Recebeu nobre encargo

    E foi cumprir nova missão

    Demonstrando imenso orgulho disse

    Que de um coronel ficou por um tempo à disposição

 

    Que com muita honra

    Atendeu nobre chamado

    E por seis anos

    Trabalhou com o coronel Nogueira Lago

 

    Continuando sua narrativa

    Causou-me estranhesa, beirando a decepção

    Quando fez a seguinte afirmação:

 

    ‘Coronel, hoje eu sou um homem rico’

 

    Meio que sem entender e procrando não ofender

    Busquei entre palavras

    Um jeito daquela história saber

 

    Com muito tato conseguí o meu intento

    E tamanha foi minha alegria e emoção

    Ao ouvir daquele bom soldado

    Que sua maior glória, seu maior orgulho

    E sua maior riqueza

    Era a nobreza de ter chegado a condição

    De soldado da Polícia Militar do Maranhão

 

    Naquele momento demonstrou toda sua alegria e emoção

    Suas palavras firmes e seus olhos brilhantes refletiam autenticidade

    O que me fizeram acreditar que sua maior riqueza

    Era mesmo ter passado

    De quebrador de côco a autoridade

 

    Disse-lhe então

    Que usaria parte da sua história para fazer uma canção

    E ele com alegria e entusiasmo respondeu

 

    “vendo todas as fitas e o lucro será todo seu”

 

    Agradeceu emocionado

    Dizendo que eu havia caído do céu

    Que jamais esqueceria

    Que havia sido deixado onde queria

    Numa carona na mesma boléia, dada por um coronel

 

    Após aquele dia

    Nunca mais nos encontramos

    E por ironia da vida

    Depois de alguns meses

    Triste notícia recebí

    Que havia morrido bem alí

    Pertinho do meu local de trabalho

    Aquele rico, alegre e empolgado

    Soldado Ararí

 

    Sim, não nos vimos mais

    Pois Deus havia chamado aquele Manoel de Jesus

    “O Guerreiro dos Cocais”

 

    E aquela prometida composição de toada

    Para o saudoso soldado Ararí

    Teve que ser modificada

    E agora só pode ser cantada assim”:

 

     

 

    Toada: “O GUERREIRO DOS COCAIS”

    Letra: Franklin Pachêco Silva

    Cantador: Ribamar, do Bumba-boi de São José de Ribamar

 

 

    “O GUERREIRO DOS COCAIS”

 

    DEUS SABE O QUE FAZ

    MANDA CHAMAR PESSOAS BOAS

    PARA REINAR AO SEU LADO

 

    ESCOLHE NO MUNDO

    NINGUÉM PODE SE ESCONDER

    QUANDO VEM O SEU CHAMADO

 

    ACONTECEU EM 2004

    NA “ILHA-DO-AMOR”

    QUANDO A NOTÍCIA ESPALHOU

    ABALOU SEUS FAMILIARES

    E O POVO DO LUGAR

    SOLDADO ARARÍ

    FOI DEUS QUEM MANDOU TE CHAMAR

 

    EU TAMBÉM ME COMOVÍ

    COM MEU MARACÁ SOFRI

 

    REFRÃO

    FOI EMBORA

    NÃO SE ENCONTRA MAIS AQUÍ

    DOS COCAIS

    O GUERREIRO E SOLDADO ARARÍ.